sábado, 4 de abril de 2009

Como esses.

Devia-se poder fuzilar os fantasmas. Como aqueles que se lamentam aos ouvidos enquanto se dorme. Como aqueles que respiram alto no negro da noite e talham o movimento de medos e calafrios húmidos. Como aqueles que nos ditam, no meio das gentes, as ondas dos versos e das palavras defensivas. Como aqueles que vêm presos às lágrimas e nos ocultam a luz clara do dia luminoso. Como aqueles que escondem as ratoeiras, guardadas nos cantos frios da solidão. Como aqueles que roubam brinquedos preferidos, abandonados pela infância comovedora dos cheiros e dos afectos. Como aqueles que ainda gritam para dentro do eco em nós, alimentando a insegurança de doença.

Como esses que pisam as pedras brancas da entrada da minha casa, a ameaçar arrombar a privacidade plantada à beira da janela. Como esses que escuto a rirem no meio da praça deserta, aflitos de existência à beira da fonte seca. Como esses que massacram a moral para que eu viva numa condenação permanente de impotência. Como esses que não sabem falar, mas só lançar grunhidos agudos de palavras violentadas. Como esses fantasmas futuros vestidos de incógnitas e de batas brancas de psiquiatra que não compreende a loucura de si mesmo. Como esses fantasmas que não conheço, mas que estão sempre presentes a marcar caminho, rumo ao meu.

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