terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Monstro.

Terei culpa se o coração arrebenta-me com as artérias, se expulsa socos de sangue contra o meu peito e me estala as veias com beliscões violentos de emoções que não percebo por onde cresceram? Terei culpa, sim. Terei tanta culpa como aquela em que larguei-te na estação, abandonado aos postes tremeluzentes e à pressa de malas vazias. Terei tanta culpa como quando menti-te e disse que poderia voltar num dia quente ou frio, morena ou loura, mas com o mesmo olhar perdido nas algibeiras de criança à procura de um berlinde que falta. Terei tanta culpa como esse berlinde que procuro e não encontro, provavelmente em descida pela ribanceira dos sonhos, aos trambolhões pela montanha à procura de uma nascente que o carregue pelo som da transparência no meio da floresta. Terei tanta culpa como a minha porque não sei o que é a estabilidade de uma folha sobre um galho numa tarde escura de vento, o que é a estabilidade de um peixe no mar em tempestade, o que é a estabilidade de um brinquedo nas mãos de uma criança, o que há de estabilidade em amar, o que é a estabilidade em responder-me...

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