sexta-feira, 21 de outubro de 2011

"De facto, seria desejável que, no actual sistema de produção, a aquisição contribuísse para pagar o custo de obra, que o número de compradores aumentasse de tal forma que se aproximasse dos custos reais, porque de algum modo autonomizava ainda mais a produção. Aqui estamos no domínio da sociologia da arte e sabemos como as artes são historicamente minoritárias e que mesmo em países de grande escala não pagam os custos: algum entretenimento sim, mas mesmo esse é geralmente pago pelos recursos financeiros cativados pelos mecanismos publicitários mais massificadores. Não há pois qualquer argumento que possa atribuir uma relação directa entre públicos e bilheteira, entre bilheteira e qualidade da obra, entre quantidade de público e pertinência da obra. O discurso político que assim o afirma fá-lo por motivos populistas a que geralmente se acrescenta um enorme desconhecimento sobre os mecanismos de produção artística, a formação dos públicos e mesmo a própria história das artes. E ainda, porque todas as avaliações decorrem de um grau de irracionalidade, são geralmente discursos ressentidos na exacta expressão de Max Scheler: porque é que uma minoria entende uma obra que eu não entendo e ainda por cima pode ter prazer com ela? Disto eu me ressinto, diz o discurso do ressentido."



in Ipsilon, Jornal Público, "As artes sempre foram, são e serão minoritárias", por António Pinto Ribeiro
Artigo completo:   http://ipsilon.publico.pt/artes/texto.aspx?id=295018

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