sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A Serra

Na juventude, aconteceram-me coisas incríveis! Trazíamos a natureza na palma das mãos e lobos maus como palavras que iam devorando as ingenuidades. Invadíamos propriedades privadas porque também queríamos um miradouro só para nós. Desejávamos o esplendor. Desejávamos arrebatamento e descobrir novas falas das árvores e das aves pousadas sobre o nevoeiro sombrio e escorregadio. Felizmente, sonhei muito. Sonhei no sítio certo e sonharam para mim. Na realidade, havia sonho no manto verde, disforme e húmido daquela natureza. Ali, só era preciso ter vocação para viver. Ali, o destino não existia. Ali, não havia fatalidades para o futuro. Ali, havia imaginação para possíveis ninfas e monges e dragões. Ali, havia espaço para a juventude transbordante. Ali, havia uma solução para a nossa selvajaria e para o nosso absurdo.

Lancei o oitavo suspiro porque encontrei o silêncio, no mesmo sítio onde temia a solidão. Havia um horizonte, para o qual debruçava-me na esperança de ouvir os murmúrios da paisagem. O silêncio era mesmo real porque tudo estava longe dali. Excepto os corações que batiam ao meu lado.







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