domingo, 12 de abril de 2009

Hoje é sábado de manhã e o sol irrompe pelos telhados, rasgando a placa de gelo dos corpos arrefecidos sobre a cama. Sinto-me intrusa neste sábado de manhã, no passeio premeditado à pressão de um minuto. Sinto-me intrusa nestas famílias que me acolhem entre os bancos do metro e com gestos energéticos de um pequeno-almoço reforçado e tranquilo. Sinto-me preguiçosa ao passar em passo lento por aqueles que correm para cortar a meta invisível da sua vida, num sábado sem ambição. Os carros deslizam num silêncio obrigatório de cidade ingénua ao despertar de uma memória nocturna.
A Torre Eiffel parece menor porque a cidade cresceu nesta manhã de vitaminas luminosas e de risos frescos e sonhadores. Há um repouso de balada de piano e há quem pare sem razão no meio do passeio, só para parar, só para sentir que tem tempo para parar sobre as árvores enormes de braços enrugados que nos embalam como bebés. As estátuas descerram os seus membros de pedra e caminham em sussurro à procura da sua vida de outrora.
Como numa fotografia a preto e branco com o sol a impor-se na cor dos beijos, provavelmente num sábado, num eterno sábado de manhã quando o metal se funde em carícias quentes de rendas nos abraços dos amantes afagados pelo calor da manhã.

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