sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Inspirado na primeira ingénua audição do concerto para violoncelo de Lutoslawski

Que sol é esse que te sai, tão bem encenado e encaixado em todo o corpo? Entre o sol, aparecem rasgos negros, onde só se consegue ouvir respirações desconcertadas. Ouço a melodia mais complicada de uma só nota, mas a tua serena encenação alerta-me para a tranquilidade. O teu desconhecimento perante a minha presença faz-me inundar de expectativa. Assim, monologamos, dentro desse sol repetido, sempre igual, ao mesmo sol que ilumina a noite.
Foge! Foge! Pressinto feras. Ouço-as a vir, a correr com as patas ansiosas, juntas para a tua matança. Já estarás rodeado? Ou ainda monologas? Mas se estás tão sereno e tão perfeito, não te poderia interromper. Nunca. Elas estão aí e já se ouvem. Estão agressivas e são metais quentes que inspiram para te fazer mal. E tu começas a combater, corajoso, com a única arma que possuis.
Há uma selva grande à tua volta, com magníficos seres disfarçados de árvores que se preparam para o ataque. Tu arranhas o fundo da noite bravamente.
A tua morte chegou, com uma estrondosa descida dos anjos. Agarram-te para que o sol viva. Continuas sereno, como veludo. No céu, o mesmo som, batido na infinidade do tempo, sacrificado para um espaço de luz, sem trevas, onde só tu permaneces. De olhos fechados, a pensar na salvação do homem, com o teu instrumento arma a tocar a melodia de uma só nota, mas tão perfeita.







3 comentários:

  1. Já vão longe os tempos do wíínm-óónnn-wíím-óónn...
    Estás a ficar uma senhorita de fosso de orquestra.

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  2. qual fosso qual quê! deviam é pôr-te a 100 metros do chão, por cima do palco, linda e brilhante. e ias ter fãs malucos e groupies maradas.

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  3. loool! aih obrigado pelos elogios...entre o fosso e o céu...o mais importante é tocar!

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