sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Noctem – Pensamento

Com todos os encantos coabitam todas as desilusões. Pensava ele, no seu bloco mental desorganizado...pensava ele. A noite já ia vivendo as suas largas passadas espontâneas, mas nada lhe dizia entre as horas puxadas pelo esforço do humor. Sentia-se cansado. Sentia-se a suar por todos os poros e que a camisa lhe arrancava pedaços de pele. Quando decidiu que partiria ficou desperto e motivado para o ar gelado que estaria lá fora. O caminho foi curto e o pregador que esperava vir a encontrar ainda não aparecera desta vez. Ele haveria de vir, numa noite inesperada.
Entrou pelo portão das traseiras, cada vez mais encolhido e cada vez menos prático, para ele, que crescia a todo o momento. Hoje sentia-se no seu corpo e o portão não foi suficiente. Com um pouco de pressão, passou e escutou os passos rápidos dos sonhos das pessoas que já dormiam. Talvez, esta noite, o seu sonho fosse ainda mais incrédulo. Acreditava demais. Ficou a pensar numa das perguntas que lhe fizeram, naquela noite. Era demasiado geral, tão infinita como a diversidade nas coisas e nas terras. Exactamente, o que será ser fechado? Como é a massa das pessoas fechadas? Como é que elas se movem? Há quase sempre a possibilidade de uma abertura nos objectos. Uma caixa fecha-se e abre-se ou quebra-se ou estilhaça-se. Se calhar, há pessoas a quem nunca lhes foi dado uma abertura. Há outras, que preferem trincos e haverá ainda outras que não lhes interessa a dualidade de hipóteses. Portanto, ele continuou sem resposta à cidade e sem perceber a urgência.
Pensava ele como era estranho ser ainda um estranho que tinha de dar uma opinião. Não que as não tivesse, mas preferia fechá-las, para mais logo, quando tivesse sítio que lhe pertencesse.



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