quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Viagem nas tuas viagens. III.

És o menino que cresceu. E eu já não sou criança agarrada ao amor que não soubeste usar. Espreitava-te, sozinha no banco corrido enquanto rias com todos e eu deslumbrava-me em ti. És o menino que cresceu e quando chegaste a grande, eu comecei a odiar-te porque não soubeste espreitar comigo o mundo. Comecei a odiar-te porque soubeste destruir o encanto do primeiro amor. E fiquei a achar que amar é muito difícil, mais difícil que escalar muito alto a montanha mais acidentada. Mas, nem por isso, cortaste-me as asas, talvez porque nunca as soubeste abrir para sentir o seu toque de pluma e o seu cheiro a flores silvestres. Posso espreitar-te quando quiser, mas tenho a sombra dos pássaros que sempre estiveram comigo e que, quando eu caí da infância para a vida adulta, apararam-me a queda com novelos de penas. Por isso, continuo a odiar-te porque uma ave ensinou-me a voar com ela.


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