terça-feira, 20 de outubro de 2009

Viagem nas tuas viagens. IV.

Já não há pombos a quem dar de comer. Já não há quem me solidifique na solidão espectral dos dias vazios. Sem pombos e sem pessoas. Bem me posso torcer neste corpo de massa para aconchegar os casacos no corpo magro, mas o frio agoniza a minha expressão e as minhas mãos vividas, apertadas numa contra a outra para não deixar escapar o reservatório das lembranças. Não sei se diga adeus ou deseje um bom dia, na frescura tardia das horas. Não sei se o dia de ontem pode-se repetir na recordação dos dias passados, mas não alcanço memória dos anos passados, na companhia de uma família, agora crescida e posta em retrato. Assim, guardo as lembranças porque as lembranças são sentimentos doces que o prazer deixou-me gravadas. Mas a memória?! Fui destruindo-a porque foi-me imposta pelas escolhas que eram únicas opções, naqueles tempos em que o coração mentia-me descaradamente.
Agora, já nem aos pombos posso dar de comer. Pode ser que eles voltem amanhã, para variar.

2 comentários:

  1. Que bom lêr-te, gosto especialmente deste texto.

    Biz! Al

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  2. O quê? estou estupefacta! um comentário neste blog?! Estamos agradecidos. Monstro Lda.

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